Urologia e Andrologia
Hipogonadismo

O que é o hipogonadismo?

O hipogonadismo é o termo médico que indica deficiência de Testosterona no organismo e que pode causar sintomas do foro sexual como a redução da líbido, disfunção erétil ou alterações na ejaculação.  O hipogonadismo pode ser primário (deficiência de produção no testículo) ou secundário. A causa genética mais comum do hipogonadismo primário é a síndrome de Klinefelter

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A testosterona (T) é uma hormona fundamental para o homem. É uma hormona produzida principalmente nos testículos por estímulo a nível de uma glândula cerebral que é a hipófise, e a sua regulação é feita pelo eixo hipotálamo-hipófise-gónada. A nível cerebral, o hipotálamo produz uma hormona – a LHRH – que vai estimular a hipófise a produzir uma outra hormona – a hormona luteinizante ou LH – e é esta que, por sua vez, estimula a produção de T nos testículos. A Testosterona disponível para as actividades biológicas circula no sangue de forma livre (aproximadamente 2-3%), ou fracamente ligada a proteínas não específicas como a albumina (cerca de 40%). Nos homens, esta hormona é responsável pelo aparecimento das características sexuais secundárias (barba, voz grave, por exemplo). Além disso, a Testosterona tem múltiplos efeitos no corpo humano, é essencial para a saúde e bem-estar geral e, mais especificamente, para a fertilidade e para o comportamento sexual. 

A deficiência de Testosterona (hipogonadismo) ocorre quando o corpo não consegue produzir esta hormona para funcionar normalmente. A partir dos 40 anos, ocorre uma diminuição nos níveis circulantes de testosterona livre de 1,2% por cada ano, e aos 70 anos é cerca de 35% menor do que os de um adulto jovem. Para além da redução natural com a idade, esse declínio tem várias outras causas. O tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, consumo de carne e de alimentos com elevado teor em gordura, stresse, depressão e alguns fármacos, estão também associados a uma redução significativa nos níveis de Testosterona.

O hipogonadismo de início tardio (HIT) é o termo recomendado por várias sociedades médicas para substituir a terminologia anterior de andropausa. De fato, em oposição à menopausa, a andropausa, não existe. Isto é, não há uma redução abrupta dos níveis de hormonas em todos os homens a partir de certa idade. O que existe sim, é uma redução gradual dos níveis destas hormonas a partir dos 40 anos, mas que não ocorre de forma sistemática em todos os homens e nem de forma uniforme. O HIT é considerado uma síndrome clínica e bioquímica associada ao envelhecimento, e caracteriza-se por sintomas típicos (apresentados na tabela) e por uma deficiência simultânea nos níveis de Testosterona detetados no sangue. Os sintomas mais frequentes incluem mudança no humor e distúrbios da memória, diminuição da densidade mineral óssea, diminuição da massa muscular, fadiga, aumento da adiposidade visceral e do índice de massa corporal (IMC), bem como disfunção sexual. A avaliação dos doentes com suspeita clínica de HIT deverá ser acompanhada por estudo analítico adicional, nomeadamente com doseamento dos níveis séricos de Testosterona. Apesar de não ser consensual, considera-se o valor sérico de Testosterona de 300 a 350 ng/dL como o limite inferior do intervalo de normalidade. 

Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado que a existência de hipogonadismo masculino é maior do que se pensava. No estudo longitudinal de envelhecimento de Baltimore, 20% dos homens com mais de 60 anos de idade, 30% dos homens com mais de 70 anos de idade e 50% dos homens com mais de 80 anos de idade tinham um baixo nível da Testosterona total. Como com o avançar da idade também se observa um aumento dos casos de disfunção erétil (DE) pelo que é assim cada vez mais comum o aparecimento de hipogonadismo e DE em homens em envelhecimento na nossa consulta de andrologia. Mas a deficiência de Testosterona também é relatada em cerca de metade dos homens com diabetes mellitus (DM) ou com síndrome metabólica (Mets). Esta síndrome é definida pela presença de obesidade abdominal, juntamente com hipertensão, dislipidemia, e resistência à insulina. Os efeitos benéficos da Testosterona observam-se de forma global no nosso organismo e a sua diminuição pode explicar a associação cada vez mais reconhecida com a tríade DE – Mets – Doença Cardiovascular. De fato, as pessoas com deficiência de Testosterona apresentam maior severidade da aterosclerose (oclusão das artérias) e foi encontrada uma correlação entre os níveis Testosterona e a severidade de doença coronária. Além disso, numa análise sistemática recente, com uma média de tempo de seguimento de quase 10 anos, vários investigadores concluíram que os baixos níveis de Testosterona estão associados ao risco acrescido de mortalidade por todas as causas e por doenças cardiovasculares nos homens. A deficiência de Testosterona está associada a uma maior deposição de gordura visceral, redução da sensibilidade à insulina, intolerância à glicose, aumento dos triglicerídeos e do colesterol e redução do HDL-colesterol. Todos esses fatores são encontrados na Mets e na diabetes tipo 2, contribuindo para o aumento do risco cardiovascular.

A Testosterona também apresenta efeitos benéficos a nível sexual. Para além de melhorar significativamente o desejo sexual, também interfere localmente no corpo cavernoso (CC), a estrutura dentro do pénis que se preenche de sangue quando há uma ereção. A administração de Testosterona conjuntamente com a terapêutica oral para a DE, os inibidores da PDE5, como o Viagra®, Levitra®, Cialis® e Spedra®, melhora a resposta a estes fármacos em pacientes previamente não respondedores a esta terapêutica isoladamente e nos quais os níveis séricos de Testosterona basais estão abaixo do normal no adulto. 

Tratamento

O tratamento de doentes com HIT deve ser considerado em homens com níveis baixos de Testosterona no sangue, ou naqueles que apesar de apresentarem níveis de Testosterona no limite do normal, têm queixas clínicas relevantes. O tratamento consiste em mudanças no estilo de vida, nomeadamente a adoção de uma alimentação equilibrada e a prática regular de exercício físico, associadas à administração de testosterona e ao controlo das doenças presentes no indivíduo. Existem diversas formulações disponíveis no mercado, sendo habitualmente utilizadas as vias de administração transdérmica (aplicação de gel na pele) ou intramuscular. Mesmo depois de todas as evidências apontarem para um papel benéfico global da terapêutica com testosterona, o medo do cancro da próstata, cancro da mama, e aumento dos sintomas da hiperplasia benigna prostática (HBP), e bem como o seu papel no aumento das probabilidades de um evento tromboembólico em doentes susceptíveis, continua a representar um grande desafio para nós urologistas e andrologistas. Desta forma, os doentes que iniciaram tratamento com testosterona devem ser reavaliados regularmente em consulta nos primeiros 3 anos de tratamento, com realização de toque retal e doseamento do antigénio específico protático (PSA). No entanto, o enorme benefício obtido com esta terapia em doentes com morbilidades como a Mets, e os numerosos estudos que mostram o aumento da mortalidade em homens com deficiência de Testosterona, deve ajudar-nos a orientar adequadamente os nossos pacientes através de toda a controvérsia.

Tabela – Sinais e sintomas sugestivos de HIT no homem

Sinais e Sintomas mais específicos

Diminuição do desejo sexual

Disfunção erétil

Diminuição da intensidade do orgasmo e da sensação sexual

Osteopenia ou osteoporose

Diminuição das ereções espontâneas

Alterações no espermograma – infertilidade

Diminuição das dimensões dos testículos

Calores e excesso de sudorese

Dor mamária ou ginecomastia (aumento da mama)

Rarefacção pilosa púbica e axilar

Sinais e Sintomas menos específicos

Fadiga fácil

Humor depressivo

Redução da massa muscular

Baixa capacidade de concentração e diminuição da memória

Distúrbios do sono, com insónias frequentes

Anemia ligeira

Aumento da massa gorda corporal e do índice de massa corporal (IMC)

Diminuição do desempenho profissional e físico

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