Disfunção Eréctil como marcador de Saúde Cardiovascular
A disfunção eréctil (DE) é uma patologia muito prevalente cuja etiologia é maioritariamente vasculogénica. Vários trabalhos indicam a elevada prevalência de DE em doentes com factores de risco cardiovascular, considerando-se o mecanismo etiológico comum a disfunção endotelial. A disfunção endotelial e a aterosclerose são patologias sistémicas que uniformemente afectam vários leitos vasculares. Contudo, devido aos diferentes calibres dos vasos, raramente as manifestações clínicas surgem em simultâneo. E de acordo com a hipótese do diâmetro arterial, sendo os vasos penianos de menor calibre, são assim mais precocemente afectados.
A DE é um forte factor preditivo de eventos cardiovasculares em homens jovens e de meia idade. Inman e colegas estudaram o efeito da idade na relação entre DE e risco cardiovascular. Seguiram uma população randomizada de cerca de 1400 homens com actividade sexual regular e sem DCV conhecida durante 10 anos. Verificaram que as densidades de incidência de eventos cardiovasculares para os homens sem DE foram de 0.94 (40−49 anos), 5.09 (50−59 anos), 10.72 (60−69 anos), e 23.30 (≥70 anos). Contudo, para os homens com DE, estes valores aumentaram para 48.52, 27.15, 23.97, e 29.63, respectivamente. Estes resultados sugerem que a DE em homens mais jovens está associada a um aumento marcado do risco de eventos cardiovasculares futuros, enquanto que em homens mais velhos a importância prognóstica da DE é mais reduzida.
Adicionalmente, quando avaliamos doentes com coronariopatia, em cerca de 2/3 dos doentes, esta é precedida por queixas de DE. Mais, existe uma correlação clara entre a gravidade do atingimento coronário (avaliada pelo número dos vasos coronários atingidos) e a gravidade da DE, e também com o tempo que medeia entre a DE e o aparecimento clínico do síndrome coronário.
A disfunção endotelial é deste modo considerada equivalente à disfunção eréctil, e a sua manifestação deve alertar para a presença de doença cardiovascular potencialmente grave. Por exemplo, não só sabemos que a DE precede em cerca de 39 meses uma síndrome coronária como também precede eventos cardiovasculares em cerca de 3 a 5 anos! Desta forma, a DE apresenta-se como um marcador da saúde vascular e de doença cardiovascular oculta, afigurando-se como uma excelente oportunidade para detecção e intervenção médica precoces.